23/04/2011

BLOCO DO RIO VERMELHO


Um show de empolgação

Na quarta vez que saiu às ruas, o Bloco Amigos do Rio Vermelho mostrou uma força extraordinária em produzir alegria. A empolgação dos foliões e a qualidade da banda musical contagiaram o público, que ovacionou entusiasticamente o bloco.
Os Amigos do Rio Vermelho afirmaram-se também como referencial do bairro onde se realiza a famosa Festa de Yemanjá. Fizeram um desfile marcante e também emocionante. Em suma, o bloco foi, inegavelmente, o principal destaque nos festejos populares de 2 de fevereiro de 2005.


CONSAGRAÇÃO – Infelizmente não deu para todos. As 500 camisas disponibilizadas e vendidas a preço simbólico (dez reais cada), esgotaram-se rapidamente, superando as expectativas, que tinham sido calcadas na freqüência do ano anterior. Inúmeros membros da comunidade riovermelhense, que deixaram para efetuar a compra no dia da festa, não conseguiram a cobiçada peça. O jeito encontrado pelos “descamisados” foi desfilar “à paisana”, juntamente com a legião dos que ficaram deslumbrados e ensandecidos quando viram as camisetas brancas com a estampa azul da Sereia do Mar, num trabalho da estilista Suely Sarmento, designer de moda das mais conceituadas.





Os Amigos do Rio Vermelho foram puxados e embalados pela banda do maestro Cacau, filho do bairro. Composta por 25 músicos no instrumental de sopro e percussão, executou sucessos dos carnavais de outrora, contagiando baianos e turistas com as marchinhas imorredouras de um repertório consagrado pelo público de várias épocas.
A animação, onde se mesclaram todas as faixas etárias, desde os jovens neófitos aos carnavalescos experientes e veteranos, de ambos os sexos, foi logo notada e ressaltada. Os Amigos do Rio Vermelho foram delirantemente aplaudidos pelo povo. Enfim, arrasaram e arrastaram centenas de foliões-pipoca pelos logradouros por onde passaram.
PERCURSO – A vibrante apresentação teve como palco o circuito Fonte do Boi-Santana. O desfile obedeceu ao seguinte itinerário: Praça Brigadeiro Faria da Rocha (concentração), Rua da Fonte do Boi (ida e volta), Rua Odilon Santos, Largo da Mariquita, Praça Colombo, Rua João Gomes, Largo de Santana e Rua Guedes Cabral, endereço da entrega de dois balaios contendo as oferendas dos devotos de Yemanjá que participavam do bloco. Joaquim Manoel dos Santos, o popular Manteiga, um dos mais antigos pescadores do Rio Vermelho, foi o escolhido para receber os balaios e encaminhá-los à Yemanjá.
Após a parada defronte à Casa de Yemanjá, o desfile foi reiniciado para cumprir o percurso de volta ao ponto de partida. Prosseguiu na Guedes Cabral e seguiu pela Rua Borges dos Reis, Praça Colombo, Largo da Mariquita e Rua Odilon Santos, até desembocar na Praça Brigadeiro Faria da Rocha, local da dispersão, que demorou a ocorrer. Choveram pedidos para que a banda continuasse a tocar os hits dos antigos carnavais, para o deleite da energia inesgotável dos foliões.


PERSONALIDADES – Dezenas de ilustres ex-moradores e moradores marcaram presença. Um deles foi o senhor Artur Ferreira da Silva, que ocupou cargos de comando em destacados organismos governamentais, federais e estaduais. Aos 90 anos, e residindo no Rio Vermelho desde 1949, o doutor Artur, como é chamado, esbanjou vitalidade e animação. A sua participação tornou-se um hábito, sendo inclusive considerado como folião símbolo dos Amigos do Rio Vermelho, juntamente com dona Yeda Penna, 80 anos, matriarca de uma tradicional família do Rio Vermelho.
Também desfilaram, com a camisa do já consagrado bloco, diversas outras pessoas vips, algumas radicadas noutros estados. Dentre as que vieram, e que mataram as saudades da festa, dos amigos e do bairro, estavam José Luis Penna, presidente nacional do Partido Verde, e Virgílio Elísio da Costa Neto, diretor da Confederação Brasileira de Futebol – CBF.

PARCEIROS – A manutenção do bloco, que não tem fins lucrativos, vem sendo assegurada graças ao apoio de empresas sediadas no Rio Vermelho ou que têm diretores que, de alguma forma, possuem afinidades com o bairro onde, segundo os especialistas em eventos internacionais, é realizada a mais importante Festa de Yemanjá do calendário mundial.
Como não há cobrança de taxas dos foliões, o bloco sobrevive unicamente dos patrocínios. A saída dos Amigos do Rio Vermelho em 2005 foi garantida por dez empresas: Denytur, Companhia da Pizza, Fone & Cia, Bacalhau de Martelo, Shopping Rio Vermelho, Sapato Alto, Delicatessen Estrela do Mar, Grado Engenharia, Continental Engenharia e Contimassa.
História
Idealizado por Tânia Penna e com a imediata adesão de Suzete Sarmento, Célia Dutra e Silvio de Assis (Pelé), lideranças de grande conceito nos setores da Mariquita e Fonte do Boi, o bloco Amigos do Rio Vermelho foi gerado numa festa de congraçamento entre antigos moradores do bairro, realizada na Mansão da Fonte do Boi, em 1° de julho de 2000. Um ano depois, no segundo encontro festivo, desta feita no Restaurante Alto de Ondina, na noite de 29 de setembro, o bloco finalmente nasceu, pois ficou decidido que sairia no dia 2 de fevereiro de 2002. Partindo da Fonte do Boi, o préstito foi levar, acompanhado por uma charanga carnavalesca, os presentes que alguns moradores do Rio Vermelho ofereceram à Yemanjá. É de Tânia Penna, uma das fundadoras do bloco, o seguinte depoimento:
“A criação do bloco foi com o objetivo de resgatar a participação da comunidade nos festejos do dia 2 de fevereiro. Por motivos vários, os moradores estavam se afastando cada vez mais do tradicional evento, que sempre esteve presente na vida de todos, principalmente no seio da juventude das décadas de 1950 a 1980. Muitos já não residiam no Rio Vermelho e haviam deixado de freqüentar a Festa de Yemanjá por se sentirem perdidos no meio da multidão, estimada pela Policia Militar em 150 mil pessoas”.
O início foi tímido, com poucos participantes. Porém, com a divulgação boca-a-boca, os riovermelhenses foram se reencontrando no dia das homenagens à Yemanjá. Ao trabalho de catalisação e integração ao bloco, iniciado por Tânia, Suzete, Célia e Pelé, agregaram-se outros moradores antigos, tais como Ernesto Ferreira (Ernestão) e Artur Ferreira Filho. Para engrossar mais ainda a fileira dos baluartes, entraram na administração do bloco componentes de duas importantes entidades do bairro: Ricardo Barretto, diretor administrativo-financeiro da Amarv – Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho; e Lauro da Matta (Loli), diretor social da Acirv – Academia dos Imortais do Rio Vermelho.
Depoimentos SOBRE O BLOCO
Clóvis Bezerril, ex-morador do Rio Vermelho: Antigamente, cada setor do bairro tinha seu bloco. Eram bem simples, mas muito divertidos, onde os moradores, especialmente os jovens, brincavam pra valer. Recordo-me que da Vila Matos saia o Lero-Lero, a Paciência tinha o Clube Vilas, em Santana existia o Mulambo e na Mariquita o de Dona Decyr, só para crianças e adolescentes. Foram desaparecendo quando o Rio Vermelho começou a perder a ambiência de “cidadezinha do interior”. Agora, em boa hora, surgiu e ganhou força este novo bloco, que resgatou a tradição da folia livre, espontânea e mágica de um bairro saudável e festivo.
Suzete Sarmento, co-fundadora do bloco: O nome Amigos do Rio Vermelho diz tudo, pois o bloco congrega, preferencial-mente, foliões que residiram, residem, trabalham ou que simplesmente gostam do nosso bairro. Num ambiente onde reina a harmonia e, sobretudo, a confraternização, os participantes se divertem em paz e se sentem seguros. Afinal, todos ou quase todos se conhecem, nem que seja apenas de vista. É o bloco de uma grande família, a família do Rio Vermelho.
Emílio Carrera, morador tradicional do Rio Vermelho: É onde brinco despreocupado, com minha mulher, filhos, netos, parentes e aderentes. É fantástica a mistura, numa verdadeira salada etária, pois desfilam adolescentes, jovens e adultos de todas as idades. Enfim, é o bloco onde se juntam os familiares e os amigos de várias gerações.
Marly Alcântara, moradora da Graça: Nunca residi no Rio Vermelho, mas sai no bloco como convidada da prima Sandra, que mora neste bairro sensacional, cheio de gente maravilhosa. Eu e o meu noivo não perdemos mais o dia desta festa romântica.
Jorge Liberato de Matos, ex-morador do Rio Vermelho: O 2 de fevereiro, que sempre fez parte da minha vida, agora tornou-se sagrado. É o dia em que retorno ao Rio Vermelho para encontrar antigos e novos amigos, num clima de festa sadia e de um companheirismo que só existe neste bairro.
Ingrid Meyer, turista catarinense: Mesmo sem a camisa de Yemanjá, eu e o meu grupo de amigos fomos atrás do bloco que irradiava o feitiço dos baianos. Soube que o Rio Vermelho é um bairro diferente dos demais de Salvador. O bloco também é. Por favor, nunca deixem que a música eletrônica substitua o som puro e natural da banda de metais!
Albino Ribeiro, empresário português hospedado no bairro: Um bloco simples, mas muito rico pela animação de seus integrantes. Já entreguei a um dos diretores um cartão com o meu endereço em Lisboa, onde resido, pois quero participar no próximo ano. Vou trazer a minha esposa, ela também vai adorar a festa de vocês!
Fátima Guimarães, adepta de Yemanjá: Eu e minha irmã moramos em Vilas do Atlântico e viemos ao Rio Vermelho, como fazemos todos os anos, exclusivamente para deixar nossos presentes na Casa de Yemanjá. Já íamos embora quando nos deparamos com o bloco. Seduzidas pela música, passamos a segui-lo. Trata-se de uma excelente opção para quem gosta de curtir uma folia carnavalesca à moda antiga e no meio de gente ordeira.
Newton Monte Alegre, folião e antigo morador do Rio Vermelho: Simplesmente maravilhoso. O sucesso foi tamanho que o povo não se conteve e invadiu o bloco para também se divertir. No trecho do Largo de Santana fomos praticamente engolidos pela multidão. Por essa razão, acho que no próximo ano o bloco deva desfilar protegido por cordas. A medida não é simpática, mas é necessária para manter a integridade visual e até mesmo a segurança dos foliões. Sugiro ainda a inclusão de personagens que retratem a história do nosso bairro, tais como Caramuru, patrono da baianidade, Yemanjá, que é a estrela do dia, e a Rainha do Rio Vermelho, que antigamente desfilava no Bando Anunciador, de saudosa memória.
José Carlos Taboada, nascido no Rio Vermelho: É gratificante ver o bloco reunir tanta gente conhecida e ver também que a juventude está gostando, prestigiando e aderindo à folia no dia 2 de fevereiro. Isso vai garantir a renovação dos foliões e a vida longa do bloco.
Artur Ferreira Filho, presidente da Amarv: O bloco conquistou o público com a alegria dos foliões e pela qualidade da banda de sopro e percussão, que garantiu o brilho do desfile. Também mereceu destaque a eficiente atuação preventiva, no circuito do desfile, da 12ª Companhia Independente da Polícia Militar, sediada no Rio Vermelho.
(Texto: Ubaldo Marques Porto Filho)

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