27/04/2011

É MELHOR...

"É melhor vc ter uma mulher engraçada do que linda, que sempre te acompanha nas festas, adora uma cerveja, gosta de futebol, prefere andar de chinelo e vestidinho, ou então calça jeans desbotada e camiseta básica, faz academia quando dá, come carne, é sim...pática, não liga pra grana, só quer uma vida tranqüila e saudável, é desencanada e adora dar risada. Ruim é ter uma mulher perfeitinha, que não curte nada, se veste feito um manequim de vitrine, nunca toma porre e só sabe contar até quinze, que é até onde chega a sequência de bíceps e tríceps. Legal mesmo é mulher de verdade. E daí se ela tem celulite? O senso de humor compensa. Pode ter uns quilinhos a mais, mas é uma ótima companheira. Pode até ser meio mal educada quando você larga a cueca no meio da sala, mas e daí? Porque celulite, gordurinhas e desorganização têm solução. Mas ainda não criaram um remédio pra FUTILIDADE!" "E não se esqueça... Mulher bonita demais e melancia grande, ninguém come sozinho!!!!!" 
Arnaldo Jabor

24/04/2011

SIGNIFICADOS POSSÍVEIS...


DA TERRA DO SALVADOR EM TEMPOS PRESENTES DE AXÉ

J. Teixeira Neto – Zelão
Quais significados configuram essa terra tão decantada nesses anos de história que adentram o novo século? Para uma grande maioria de brasileiros e não brasileiros, dentro e fora do Brasil, Salvador é significado de Bahia. Esse estado da Federação, ou essa identidade cultural aparece na mídia via Salvador. Fora disso, quando muito, configura-se nas novelas e em outros programas que trazem caricaturas do sertanejo como baiano e nordestino. A multiplicidade de Bahia e baiano não cabe em reducionismos simplificadores e uniformizadores como temos constatado na mídia e no mercado.
Nesse pequeno ensaio, quero tratar do contexto festivo de Salvador como significado de Bahia  em seus 462 anos. Penso em duas referências mobilizadoras para refletirmos sobre isso.
O baiano Albergaria, em sua perspectiva anarcoantropológica propõe três  marcos culturais interessantes para pensarmos a Bahia no século XX: a Bahia do imaginário de Jorge Amado, a Bahia dos Novos Baianos, da Tropicália e a Bahia do Axé. Segundo ele, a 1ª Bahia é aquela dos pescadores com chapelões de palha, das morenas brejeiras, das putas dos becos e vielas do Maciel, das puxadas de rede em Itapuã, de Cayme, Mario Cravo, Verger, Zélia Gatai, Dinha do Acarajé e do próprio Jorge Amado; uma Bahia da literatura, dos romances e tragédias tropicais. A 2ª Bahia á dos Novos Baianos, dos Doces Bárbaros, de Gil, Caetano, Gal, Bethânia; uma Bahia que se torna midiática, que ganha a comunicação de massa. A 3ª é a Bahia do No Stress, da terra da felicidade eterna, da curtição sem limites, onde o Axé, mais que um estilo musical, torna-se um estilo de vida, de consumo, um mercado promissor.
O francês Michel Maffesoli, sociólogo do presente, afirma que vivemos a presentificação da vida, o agora, onde não há mais espaço para o saudosismo do passado nem para a utopia do futuro. Tempos em que novas formas de solidariedade desconstroem os modelos vigentes na modernidade, centradas não no racionalismo, mas na emoção, no afeto e no prazer. Provoca-nos ainda, para pensarmos a Modernidade através do mito de Prometeu, deus do trabalho, da razão, da seriedade e pensarmos também o que ele classifica como Pós-Modernidade, via o mito de Dionísio, a desordem, a festa, o hedonismo. O sociólogo aponta que nesse tempo presente o trabalho tem seu lugar, mas o prazer, a festa, a emoção buscam o retorno de elementos que a Modernidade julgava ultrapassados, configurando um novo humanismo, juvenil e criativo, através de uma espécie de juventude eterna.
É sobre aquela 3ª Bahia e dessa presentificação hedonista que teço a rede de possíveis significados da Soterópolis em seu 462º. aniversário. E não creio que possa fazê-lo fora da perspectiva das ambivalências e da complexidade.
As festas do calendário da Terra da Felicidade ao mesmo tempo em que geram empregos, mesmo que temporários, informais e não-qualificados, promovem significados de subdesenvolvimento quando vemos os deslocamentos de famílias de suas residências na periferia e nos bolsões cravados pelos corredores da cidade, para os circuitos das festas instalando-se desinstaladamente em calçadas, meio-fios, com beliches, colchonetes, papelões, cobertores, inseridos nas mais nefastas condições de insalubridade.
Os trios, blocos e camarotes frequentados e habitados fugazmente por abastados (e até endividados) abrilhantam, sofisticam e embranquecem as festas e contrastam com os ambulantes, cordeiros e gente de todo tipo na pipoca que escurecem os eventos.  Embranquecimento e  escurecimento não são inocentes, não acontecem ao acaso, são forjados politicamente no social e revelam diferentes aspectos segregatórios que caracterizam essa sociedade reinterpretada nessas festas. De certa forma, elas reproduzem essas segregações.
Seus ídolos e heróis, artistas e profissionais de muito carisma e competência para aquilo a que se propõe demonstram profissionalização e criatividade animando a massa, ao mesmo tempo em que se transformam em ícones de mercado para consumo dos mais diversos produtos, inclusive impróprios para menores. Muitos se renderam à visibilidade midiática e aos cachês estratosféricos geradores de notoriedade que promovem afetações do tipo “sou criador de… e por isso eu posso e faço o que quiser”, “eu sou um presente para o povo”…
Sobre o carnaval especificamente, na saída de um dos grupos afro no Pelourinho (que realizava apresentação espetacularmente maravilhosa e vibrante), o governador fazia seu discurso com os viciados jargões sobre maior festa do mundo: baixos índices de violência, festa democrática e da diversidade, que gera trabalho e tira crianças da rua, enquanto por entre a massa empolgada da qual eu fazia parte, crianças “pretas, brancas, quase pretas e quase brancas” em situação de risco em todos os sentidos, disputavam acirradamente latinhas de alumínio e escarafunchavam restos de salgadinhos e outros petiscos deixados por turistas e locais.
O Axé como estilo de vida, como um jeito de ser e estar no mundo não demonstra lastros com o passado e nem vislumbra futuro. O passado é, no máximo, a música do ano anterior. E o futuro, o próximo trio que lá vem. O caro consumo desse estilo se assenta num forte hedonismo, na erotização da sexualidade, no prazer, na fugacidade e na perspectiva escópica  (vejo e preciso ser visto para existir) em diferentes níveis, dos Vips aos Pipocas. Nessa lógica a vida tem de ser vivida intensamente agora, entorpecida por destilados, fermentados, alucinógenos e outros  psicoestimulantes.
O POP de Salvador é abrangente/limitador: ele absorve toda e qualquer tendência. Brinco com isso, afirmando que se Beethoven fosse vivo, certamente seria convidado por uma das estrelas do POP soteropolitano para reger a 9ª. Sinfonia num trio elétrico no carnaval. Todos a ouviriam, interagiriam e entretanto, a ressignificariam tranformando-a numa levada de samba-reggae, pagode ou cavalgada.  A diversidade é reconhecida até cair no liquidificador POP onde se AXÉdifica e passa a ser consumida. Torna-se uma espécie dediversidade do mesmo. Isso é estratégia para consumo, hegemonia de uma produção local transformando o global, conservadorismo por transformar o diverso em algo familiar e definir a diferença a partir de si, liberalidade por entender o diverso como quiser e transformá-lo no que quiser ou quê?
As propostas e produções diferentes do paradigma do Axé tem espaço mas não visibilidade. Aparecem como formas alternativas de “cultura” e entretenimento que se apresentam em espaços e horários de visibilidade um tanto nublada.
Essa Bahia do Axé gera visibilidade, recursos e emprego, mesmo que de qualidade duvidosa. Isso é notório e também comprovado nas estatísticas. Entretanto, não gera distribuição de renda. Não altera e perpetua com novas fantasias, ou melhor, novos abadás o modelo que concentra renda, praticado há séculos nesse país. A Bahia do Axé oferece possibilidades concretas de presentificação dionisíaca a consumidores ávidos por possibilidades hedonistas. Não basta só querer descumprir ritos da burocracia cotidiana, desopilar e extravasar. Há que se praticar tudo isso com visibilidade transmitida midiaticamente para o mundo. É preciso bater recordes de beijos na boca, de latinhas consumidas, de gente por metro quadrado nas ruas. A propósito, onde todos os recordistas urinam e defecam durante esse período?
Há muito mais na Bahia, em Salvador, do que a Bahia do Axé. Há um universo complexo, original de intensa criatividade que insiste em continuar existindo para além do enquadre da ditadura do prazer e da alegria e que também, promovem alegria e prazer. No mínimo, festas que se intitulam “da diversidade”, da “democracia”, “popular”, deveriam trabalhar melhor com horários, espaços, visibilidade midiática e promoções fazendo valer tal discurso. A proposta da TVE Salvador pode ser uma ótima referência nesse sentido mostrando a multiplicidade de expressões das festas Baianas, não só soteropolitanas.
DA TERRA DO SALVADOR EM TEMPOS PRESENTES DE AXÉ
Será que essa cultura, a do Axé e a do Presentismo Hedonista já se consolidou como significado hegemônico de Bahia, de Baiano? Será que queremos ser vistos, reconhecidos, subjetivados por esses significados, tanto na aldeia global como para nós mesmos baianos e não baianos que vivem e interagem aqui? É possível estabelecermos uma única identidade para a multiplicidade de Salvador, da Bahia, do Brasil? Não creio nisso.
Congratulo-me com esse povo bacana que é festeiro sim, que gosta do prazer sim, que leva a vida de seu jeito, sim. Mas, que não é só Axé Para o Agora, não! Tem muita história e muita perspectiva de futuro promissor, principalmente nas artes, na música, sim! Que esse povo e o governo eleito por ele (adormecido em berço sem oposições) olhem para si e se vejam na teia de significados possíveis praticados também com trabalho, seriedade, competência, e muitas gingas que transpassem essa fronteira de significado único e interaja na multiplicidade.
Parabéns Salvador!
zelao
POR: ZELAO

O BAIANÊS E A BAIANIDADE



A linguagem popular baiana é uma das principais vias de expressão do que se considera a baianidade. Até porque ela é fruto de outras duas importantes características do ethos baiano (além dela própria, a linguagem): o bom humor e a criatividade. Só mesmo o espírito baiano para inventar expressões como “espanta nigrinha” (perfume barato, vagabundo), “pão donzelo” (pão puro, sem manteiga) ou  “fazer terra” (tirar sarro em ônibus cheio). Essas e outras centenas de expressões, típicas de nosso dia-a-dia, refletem bem a brejeirice, a picardia, a malícia e, fundamentalmente, o humor do baiano. 
Mas além da criatividade “morfológica”, a linguagem popular baiana possui outras características. Existe uma tendência à redução das palavras, à simplificação silábica – reflexo sem dúvida da influência africana – muito comum nos nomes próprios: Fátima é “Fal”, Maria das Graças é “Gal”, Gerusa é “Gel”,Janete é “Nel” e assim por diante. Ou a nazalização forte da pronúncia em palavras como banana, camarãogamão. É comum também a supressão da pronúncia do dígrafo nh nos diminutivos (painho, bonitinho). Ou o  uso das vogais abertas em coração, felicidade, português (mas não em prefeitura, como insistem as ridículas tentativas de imitação do sotaque nas novelas, num verdadeiro crime cultural). É costumeira também a simplificação fonética, reveladora de outra característica da baianidade, que podemos chamar genericamente de “facilitação das coisas”: balostrada em vez de balaustrada (muito mais difícil de pronunciar…), comongol em vez de combongó,  Almêda em vez de Almeida, e o indefectível “r” antes do “s” no meio das palavras, suprimido como em Tirso (Tisso), discurso (discusso), ou em cerveja(ceveja) e percevejo (pecevejo). É usual ainda a supressão do dígrafo lh em palavras como Ilhéus (Iléus) e vida alheia (vida alêa). Sem contar outras, menos comuns, como Caró em vez de Carol e futebó em vez de futebol.
Na música do falar, é difícil de descrever –  mas fácil de perceber – a entonação decrescente nas frases interrogativas e a leve pausa após o sujeito no início das sentenças. 
Esses falares, assim como os demais ingredientes da receita desse bolo delicioso chamado baianidade, são derivados – extrema simplificação! –  do caldo cultural formado pelo mistura do europeu, das nações indígenas que aqui viviam e pelas diversas nações africanas que aqui aportaram. Esse processo de formação da identidade baiana (onde os ingredientes do bolo são conhecidos, mas a receita e o preparo ainda são um mistério) resultou nos exemplos mais óbvios das características do baiano típico, como a hospitalidade, a cordialidade (que, como ensina o mestre Cid Teixeira, não devem ser confundidas com intimidade), o dengo, a musicalidade, o gingado. 
A esses atributos – mas ainda no campo da superficialidade, já que no campo antropológico o buraco deve ser mais embaixo – pode-se ainda acrescentar a culinária, a beleza natural, a espontaneidade, o bom humor, a safadeza (no sentido descarado da palavra), a criatividade e a originalidade cultural, a variada expressão corporal, a religiosidade e, evidentemente, a linguagem, cuja expressão popular, o baianês, como já dito, é um dos principais símbolos do jeito de ser baiano, ao representar, por suas diversas expressões, muitas das particularidades que compõem o espectro da baianidade. 
Assim,  podemos estabelecer uma espécie de “glossário”, que relacione alguns verbetes da linguagem popular com um sentimento ou alguma marca da baianidade:
“GLOSSÁRIO”
Hospitalidade/cordialidade
“amigo-irmão”, “colé, velho?”, “digaê Bahia!”, “minha corrente”, “e aí, papá?” 
Dengo:
chegue, meu nego“, “queira!“, “me dê um cheiro“ 
Culinária
“abafa-banca“, “aimpim“‚‘‘alferes, “avoador“, “cacetinho”, “fatia de parida“, “mingau de cachorro“, “malassado“, “menorzinho“, “mungunzá”, “passarinha”, “vara” 
Espontaneidade
“aff!“, “aonde!?“, “Aff Maria!”, “crendeuspai!”, “Deus é mais!”, “Vige Maria!” 
Musicalidade
“bora”, “borimbora”“rumbora”“opaió”“oxe!”, “oxente!”, “xen, xen xen!”, “é ninhua” 
Criatividade e a originalidade cultural
“amarrado de corda“, “banda-voou“, “barão/barona” , “bater a caçuleta”, “bolacha quebrada“ ,“buzu“, “cagado e cuspido/cuspido e escarrado“, “canguinha/canguinhagem“, “casquinha/casquinhagem“, “cheio do pau“, “comidilha“, “dar um tangolomango“,  “de caju em caju“, “estabocar“, “dor de facão“, “enrolado no xale da doida“, “enxame de gente“, “espanta nigrinha“, “falar mais que a nega do leite“, “folozado“, “lavar a jega“, “num-sei-quenzinho”, “patapata”, “quente-frio”, “tampa de binga” 
Safadeza
“badogueira”, “bater soro”, “bozenga”, “bunda chulada”, “canhão”, “catiopiu”, “chibungo”, “comer água”, “criatura”, “dar no couro”, falapau”, “fazer o decote”, “fazer ozadia”, “fazer terra”, “gala-rala”, “jaburu”, “mamão”, “mocréa”, “pacuçu”, “quenga”, “tribufu”.
Nivaldo Lariú

    23/04/2011

    PRAIA DO BURACAO - RIO VERMELHO

    Existe uma praia em Salvador pouco conhecida da maioria da população, é a praia Anita Costa, mais conhecida como Praia do Buracão. Um pedaço de paraíso incrustado dentro da área urbana. Como o próprio nome diz, localiza-se numa grande depressão na orla do Rio Vermelho, estrategicamente escondida pela natureza, guarda uma beleza selvagem delineada por marcantes rochedos que ora se escondem, ora afloram da areia ao sabor das estações. No seu entorno alguns edifícios e residências de classe média completam a paisagem. Pela sua localização particularizada acaba sendo frequentada quase que exclusivamente por moradores do bairro e redondezas, possui apenas uma barraca de praia e um público cativo, engajado na sua preservação e limpeza. Efetivamente é uma das poucas praias urbanas que ainda podem ser frequentadas pela população.